Vitória: 5 coisas para saber antes de ver o filme baseado em história real

Através da janela de seu próprio apartamento, 'Dona Vitória', com apenas uma câmera de vídeo, registrou imagens caseiras e denunciou um esquema de venda de drogas no Rio de Janeiro — que contava com uma quadrilha composta por não só por traficantes, mas também policias corruptos. 

Sua emocionante história será contada no filme 'Vitória', produção original do Globoplay, que estreia nos cinemas brasileiros em 13 de março.

"Vitória (Fernanda Montenegro) é uma senhora solitária que, aflita com a violência que a a tomar conta da sua vizinhança e em conflito com os vizinhos, começa a filmar da janela de seu apartamento. A idosa registra a movimentação de traficantes de drogas da região durante meses, com a intenção de cooperar com o trabalho da polícia. A atitude consegue chamar a atenção de um jornalista, que faz amizade com Vitória e tenta ajudá-la nessa missão", descreve a sinopse do longa. 

Antes da estreia de 'Vitória', confira 5 coisas que você precisa saber sobre a história real por trás do longa. Veja!

1. A matéria

No dia 24 de agosto de 2005, o jornal carioca Extra publicou uma reportagem detalhando a presença do tráfico de drogas e criminalidade na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, no Rio de Janeiro. 

A matéria não só identificava os envolvidos como também continha imagens nítidas e chocantes dos criminosos (muitas vezes armados), dos usuários de drogas e das cenas de violência envolvendo menores de idade. 

A reportagem foi assinada pelo jornalista Fábio Gusmão, que demorou cerca de um ano e meio entre o recebimento da denúncia, a apuração dos fatos e a publicação da matéria. No entanto, Gusmão não era o autor das imagens — sempre feitas do mesmo ângulo de um prédio da região —, mas sim uma fonte identificada apenas 'Dona Vitória'.

2. A verdadeira identidade

Quando a reportagem foi publicada pelo Extra, em 2005, 'Dona Vitória' já havia se mudado do apartamento usado para registrar as denúncias. 'Dona Vitória', aliás, era o pseudônimo criado por Gusmão para preservar a identidade da denunciante, uma idosa de 80 anos. 

Ao longo de cerca de 17 anos, 'Dona Vitória' teve que viver num anonimato forçado por questões de segurança. Sua verdadeira identidade só foi revelada em fevereiro de 2023, quando ela, Joana Zeferino da Paz, morreu aos 97 anos.

3. As prisões

Natural de Alagoas, Joana da Paz começou a registrar a violência de seu bairro cerca de um ano antes da publicação da matéria. A idosa via cada vez mais o aumento da violência local e chegou a entregar as gravações para uma delegacia, mas as autoridades nada fizeram. 

Um policial, porém, ficou indignado com o conteúdo e o mostrou ao jornalista Fábio Gusmão, que ou a apurar as imagens. Segundo reportagem do Fantástico, da TV Globo, as denúncias foram repercutidas internacionalmente e foram responsáveis pela prisão de mais de 30 pessoas — entre traficantes e policiais coniventes com o crime organizado.

4. O livro

No ano ado, o jornalista Fábio Gusmão lançou uma nova edição de seu livro, 'Dona Vitória Joana da Paz' (Ed. Planeta), com desdobramentos que aconteceram desde a primeira edição e após a morte da mulher que ficou conhecida como 'Dona Vitória'.

"Revelada pela primeira vez em 2005 em uma matéria de Fábio Gusmão, a história de Dona Vitória tornou-se uma das mais marcantes e de maior repercussão da mídia nacional no início dos anos 2000. A senhora que, aos 80 anos, da janela de sua casa em Copacabana, no Rio de Janeiro, com uma câmera apoiada em livros e listas telefônicas, filmou toda a movimentação do tráfico e a negligência policial. A coragem misturada ao cansaço e a insatisfação pela situação de descaso das autoridades foram as motivações de Dona Vitória para continuar com a câmera na janela mesmo quando notava armas e binóculos apontados em sua direção.

Com uma história de vida intensa desde os primeiros anos, esta nova edição, agora Dona Vitória Joana da Paz, revela quem era a mulher por trás do nome atribuído pelo Programa de Proteção à Testemunha, atravessando seus anos formativos, os anos gravando a vista da janela e o longo período de exílio. Nestas páginas, Fábio Gusmão nos (re)apresenta, com imagens exclusivas das últimas semanas de gravações, ao lado de transcrições de falas completas de Dona Vitória, novos detalhes e revelações sobre a heroína por trás da câmera que mudou a história de um bairro, marcou um país inteiro e mostrou na pele como o exercício da cidadania é a mais potente arma contra a impunidade, a corrupção e a desesperança que assolam o país", diz a sinopse do livro.

5. A escolha de Fernanda

Com o lançamento cada vez mais próximo de 'Vitória' nos cinemas, uma polêmica surgiu recentemente nas redes sociais: a escolha da atriz Fernanda Montenegro para interpretar a idosa Joana Zeferino da Paz. 

As críticas surgiram pelo fato de que Joana da Paz era uma mulher negra; portanto, outras atrizes deveriam ter sido escaladas para o papel no lugar de Montenegro, que é uma mulher branca. 

"Acho que ela é gigante, mas é necessário a gente comentar que a Dona Vitória era uma mulher negra. Ela vivia em anonimato e seu rosto só foi revelado após a sua morte, quando o filme já estava em andamento, mas espero que se tenha uma menção na obra", escreveu um internauta no X, antigo Twitter.

De fato, a identidade de Joana da Paz só foi revelada quando o filme já estava em produção; o quê por si só já poderia 'justificar' a escolha de Fernanda Montenegro nesta questão. 

Mas em entrevista exclusiva à equipe do Aventuras, Fábio Gusmão revelou que a escolha da atriz para o papel foi um pedido da própria Joana: "Desde o primeiro momento, ela mesmo falava, ela gostava muito da Fernanda Montenegro". 

Ela ficava muito empolgada [com Fernanda interpretando sua história], ela usava muitos termos como 'a Fernanda Montenegro é uma atriz extraordinária, excelente'... Ela ficava muito empolgada. Então ela não só aprovava como queria muito que fosse [a Fernanda Montenegro]".

+ Confira abaixo a entrevista completa do jornalista Fábio Gusmão concedida à equipe do Aventuras na História!