Revelação vem de estudo que usou inteligência artificial para datar os pergaminhos com mais precisão, desafiando ideias antigas sobre sua origem
Felipe Sales Gomes, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 04/06/2025, às 19h30
Novas análises indicam que muitos dos Manuscritos do Mar Morto podem ser mais antigos do que se acreditava — incluindo textos bíblicos possivelmente contemporâneos a seus autores originais.
A revelação vem de um estudo que usou inteligência artificial para datar os pergaminhos com mais precisão, desafiando ideias antigas sobre sua origem. Descobertos por pastores beduínos nas cavernas de Qumran, no deserto da Judeia, em meados do século XX, os manuscritos abrangem textos religiosos com leis e agens da Bíblia Hebraica.
A maioria era datada entre os séculos 3 a.C. e 2 d.C., com base em caligrafia e análises de radiocarbono feitas nos anos 1990. Mas havia um problema: muitos manuscritos foram tratados com óleo de rícino nos anos 1950, o que pode ter contaminado os testes.
Agora, cientistas da Universidade de Groningen, na Holanda, limparam as amostras e usaram aprendizado de máquina para criar o modelo "Enoque", capaz de estimar datas com base em traços de tinta.
Dos 30 pergaminhos testados com nova datação por carbono, 27 foram datados com sucesso — e muitos mostraram-se mais antigos do que o esperado. O modelo de IA obteve 85% de precisão ao comparar imagens com as datas de radiocarbono, e estimou corretamente a idade de 79% de manuscritos inéditos.
Entre os achados, está uma cópia do livro de Daniel datada do mesmo período de vida estimado para seu autor — algo antes considerado improvável. Também se descobriu que estilos de escrita coexistiram por mais tempo do que se imaginava.
A professora Joan Taylor, do King's College London, disse ao The Guardian que os resultados podem reconfigurar a compreensão do papel de Qumran na produção desses textos. Ainda assim, especialistas pedem cautela, destacando que a data do pergaminho nem sempre é a data em que o texto foi escrito de fato.
