Em 23 de maio de 1928, Washington Luís foi baleado por sua amante no Copacabana Palace; o caso, no entanto, foi abafado, virando crise de apendicite
Embora fosse natural de Macaé, no Rio de Janeiro, foi em São Paulo que Washington Luís, importante figura da história brasileira, construiu sua carreira política e alcançou os postos mais altos da República.
Formado em Direito pela tradicional Faculdade do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, Washington logo se destacou no cenário político paulista. Começou como vereador, depois foi deputado federal, prefeito da capital e também Senador, cargo que, à época, equivalia ao atual governador de estado.
Em 1926, assumiu a presidência do Brasil, representando São Paulo no acordo conhecido como "política do café com leite", um revezamento informal entre as oligarquias de Minas Gerais e São Paulo para manter o controle do poder federal.
Bonito, elegante, simpático e sociável, Washington ficou conhecido como o "rei da fuzarca". De acordo com o portal Dia, ele era presença frequente nos bailes carnavalescos, gostava de marchinhas e óperas, usava cartolas e ternos impecáveis. Apesar do perfil festeiro, era respaldado pelos conservadores e religiosos.
Casado com Sofia Paes de Barros, filha do Barão de Piracicaba — um dos políticos mais influentes do interior paulista —, Washington Luís mantinha uma vida pública sólida e uma imagem respeitável. Mas a estabilidade aparente sofreu um duro abalo em 1928, quando um episódio escandaloso quase custou sua vida e colocou seu nome nos bastidores mais obscuros da história.
Na noite de 23 de maio daquele ano, há exatos 97 anos, o presidente foi baleado pela amante, Elvira Vishi Maurich, uma marquesa italiana de 28 anos, recém-desquitada. O tiro, dado em um quarto do hotel no luxuoso Copacabana Palace após um jantar, não foi fatal. O motivo? Supostamente, ciúmes.
Washington foi socorrido pelo dono do hotel, Octávio Guinle, e precisou ser operado às pressas. A versão oficial divulgada à imprensa, no entanto, afirmava se tratar de uma crise de apendicite.
Elvira, quatro dias depois, morreu ao se atirar do quarto andar do mesmo hotel. Há quem diga que foi suicídio, conforme a versão oficial. Outros suspeitam de que ela tenha sido pressionada.
Mesmo após o atentado, Washington Luís seguiria enfrentando turbulências. Em 1929, viu o Brasil ser impactado pela crise gerada pela quebra da Bolsa de Nova York. O presidente até tentou manter o controle ignorando os acordos da velha política e rompeu com as oligarquias cafeeiras ao apoiar um sucessor fora do pacto café com leite. Resultado: foi traído.
Em 1930, um golpe liderado por Getúlio Vargas, então Ministro da Fazenda, pôs fim ao seu governo e Washington Luís teve de renunciar.
Exilado, ou pela Europa e depois pelos Estados Unidos, fugindo da Segunda Guerra Mundial. Só retornou ao Brasil em 1947, após o fim do Estado Novo de Vargas. Viveu os últimos anos recluso em São Paulo, onde morreu em 1957, aos 87 anos.
